Resenha: Chantilly Amélia e Nestilly Nestlé (Comparativo)

Depois de falar sobre o que realmente é Creme Vegetal tipo Chantilly, nada mais justo que testar e colocar a prova. Como existem diversas marcas e tipos, tive que delimitar como seria esta resenha-comparativo. Então, temos aqui: Chantilly Amélia e Nestilly Nestlé.

Embalagem do Chantilly Amélia e Nestilly repetida

Produtos testados: Chantilly Amélia e Nestilly Nestlé

O nome oficial do Chantilly Amélia é Chanty Mix Amélia que é uma marca da Vigor, chamei de Chantilly Amélia por ser o nome mais usado.

Testei dois representantes dentro das duas categorias bases (base vegetal e animal). A minha escolha foi baseada em facilidade para encontrar e custo. Assim, escolhi o Chanty Mix Tradicional Amélia (versão de 200g) e Nestilly (versão de 1L).

O modo de preparo seguiu as instruções apresentadas na embalagem de cada produto.

Chanty Mix Tradicional Amélia

Embalagem do Chantilly Amélia de 200mL
  • Marca: Amélia (Vigor)
  • Origem: Brasil
  • Preço: r$4,70
  • Embalagem: 200mL
  • Calorias por 100g: 300kcal
  • Ranking: #4/#10 Bonitinho

Chantilly Amélia: Pontos positivos

  • Facilidade: produto ficou aerado rapidamente conforma as instruções da embalagem, sem necessidade de banho de gelo.
  • Estabilidade: se manteve estável à temperatura ambiente (~30ºC) durante o tempo de gravar e tirar fotos.
  • Apresentação: versão de 200mL facilita o uso doméstico e é possível encontrar em supermercados normais, para esta marca em questão. Se necessário existe a versão de 1L.
  • Preço: no geral, os produtos tipo creme vegetal são mais baratos que os de base animal. A versão de 1L deste era a metade do preço comparado com o Nestilly.
  • Sifão: conseguiu se montar sem problema na garrafa de chantilly (cartucho de óxido nitroso).
Colagem dos pontos do chantilly feito com Chantilly Amélia

Chantilly Amélia: Pontos negativos

  • É adoçado: o produto já vem com açúcar. Alguns terão mais e outros menos, mas já são doces. O controle do dulçor fica comprometido.
  • Sabor característico: o sabor entrega que é algo aromatizado artificialmente. O aromatizante não é dos melhores, é um sabor já conhecido que geralmente associamos com este tipo de produto.
  • Sensorial / Mouthfeel: o teor de gordura é menor, logo, a sensação ao degustar é diferente. Falta a untuosidade que o creme de leite pasteurizado daria. No geral, este produtos possuem cerca de 25-28% gordura.
  • Sifão: apesar de ter se aerado, a espuma formada é instável. Deve ser usada imediatamente, logo, o uso se restringe para as bebidas / pratos servidos e consumidos na hora.
  • Cor branca: alguns produtos se promovem quanto a coloração do creme ser mais branco. Particularmente, acho mais defeito do que qualidade. Uma vez que a gordura do leite (creme de leite) possui um tom amarelado claro na maioria dos casos.
Listagem de ingredientes e tabela nutricional do Chantilly Amélia

Nestilly: Mistura para o preparo de cobertura tipo Chantilly

Embalagem do Nestilly Nestlé de 1L
  • Marca: Nestlé Profissional
  • Origem: Brasil
  • Preço: r$26,90
  • Embalagem: 1L
  • Calorias por 100g: 335kcal
  • Ranking: #3/#10 Cilada (preço e sensibilidade à temperatura); #5/#10 Humm (pelo sabor característico)

Nestilly: Pontos positivos

  • Não ser adoçado: isso dá liberdade de ajuste ao cozinheiro.
  • Ter creme de leite (gordura do leite) na composição: o que reflete no sabor por já ser conhecido.
  • Sabor lembra o creme de leite normal da Nestlé: é um sabor familiar.
  • Cor: é levemente amarelado, o que está relacionado com a origem da gordura.
  • Sifão: na garrafa para chantilly com cartucho de óxido nitroso, a mistura ficou aerada.
Colagem dos pontos do chantilly feito com Chantilly Amélia

Nestilly: Pontos negativos

  • Alta sensibilidade ao calor: tanto a temperatura do ambiente quanto do produto em si. A mistura precisa realmente estar na faixa de 2-7ºC indicada na embalagem para conseguir montar, o que pode ser um problema para geladeiras domésticas (temperatura interna varia de 2-10ºC). Porém, se o ambiente também estiver quente, a temperatura do produto irá mudar rapidamente. Logo, não conseguirá montar o creme. Tentei novamente em dias seguintes (mais frios), a emulsão ainda sim ficou bem instável e não montou direito.
  • Congelamento não funciona: testei semi-congelar ou resfriar no congelador para abaixar a temperatura, não fui bem sucedido. Quando a emulsão se quebrou, não foi possível a sua recuperação. É possível perceber a separação da gordura da parte líquida da mistura.
  • Apenas deu ponto quando fiz uma tigela de gelo, literalmente. Com duas tigelas de tamanho diferentes criei uma borda de gelo para manter a mistura gelada durante o batimento. Apenas assim, o creme montou.
  • Instabilidade: mesmo montado, o creme aerado começa a perde estrutura rapidamente se o ambiente estiver quente. O que pode interferir se for usado como cobertura. Particularmente, não usaria para cobrir um bolo.
  • Custo: para uso doméstico, o valor é extremamente alto, talvez não compense. É 2x mais caro, na média, perto dos creme vegetais. Além da quantidade, 1L é bastante para uso corriqueiro de uma cozinha normal.
  • Sensorial / Mouthfeel : apesar do sabor ser bom, é perceptível a falta de untuosidade.
  • Sifão: apesar de ter se aerado, a espuma formada é instável. Deve ser usada imediatamente, logo, o uso se restringe para as bebidas / pratos servidos e consumidos na hora.
Listagem de ingredientes e tabela nutricional do Nestilly Nestlé Embalagem do Nestilly com indicação de creme de leite fresco

Uma observação geral da embalagem e do site do produto batem na tecla de ser feito com “creme de leite fresco”, o que ao meu ver, não quer dizer muita coisa. O produto pode ser formulado com com creme de leite “fresco” (o comércio de leite e derivados crus entre indústrias é permitido), mas na sua apresentação final ele é um produto UHT (ultra high temperature, em português é temperatura ultra alta).

Ou seja, passou por tratamento térmico para aumentar a vida útil e de prateleira. Afinal, ele pode ser armazenado em temperatura ambiente e utiliza embalagem da TetraPak. Como insumo industrial faz sentido, mas na prática para o consumidor final não quer dizer nada.

Tentei entrar em contato com o SAC e assessoria da empresa questionando sobre os problemas que encontrei e sobre este fato da embalagem. Mas até o fechado do post e a gravação do vídeo não obtido retorno. Mas nunca me responderam.

Conclusão: Chantilly Amélia e Nestilly

Comparativo dos chantilly feitos com Amélia e Nestilly Nestlé

É difícil bater o martelo. Nada é 8 ou 80. Podem ser usados? Podem. Vai ficar igual ao creme de leite “fresco”? Não. Seja por causa do sabor, seja pela diferença na gordura. Mas é uma alternativa, isso não se pode negar.

Para mim, eu sempre consigo perceber que existe a falta de gordura. Por eu estar acostumado a usar e consumir creme de leite com alto teor de gordura. Porém, vou deixar de comer em padarias / confeitarias ou se alguém me oferecer um doce por não usarem creme de leite? Não, não vou. É um consumo esporádico que dentro da minha concepção eu aceito. E no caso da oferta de doce vinda de alguém, jamais recusaria. Não faria esta indelicadeza e não comentaria nada. Se você faz isso, só digo uma coisa: melhore, colega.

Uso na minha cozinha? Não. Mas porque eu tenho fácil acesso ao creme de leite pasteurizado, aqui no interior em praticamente qualquer mercado é vendido e o preço é bom.

Um costume dentro da área da gastronomia-culinária que me deixa desconfortável e me causa aflição existencial, é o pré-julgamento sem observar o contexto como um todo. Tirando o aspecto comercial/empresa: já parou para pensar que podem ter pessoas que adorariam usar creme de leite nas duas receitas, mas não podem? Por não encontrar na cidade onde moram, por causa do preço, por serem alérgicas as proteínas do leite? Fica aí para pensar.

Bibliografia

Texto originalmente publicado em 09 de abril de 2017, modificado e republicado.

Vitor Hugo

Mestre em Ciência de Alimento, Farmacêutico-Bioquímico e Gastrônomo. Atua como Produtor Gastronômico e Comunicador de Ciência. Criou o PratoFundo para ser o portfólio de gastronomia e ciência.

Fez ou tem uma dúvida sobre a receita? Comente!

Por causa das mudanças de privacidade feitas na Comunidade Europeia, o seu comentário não irá aparecer imediatamente, caso a opção de salvar os dados não for marcada.

Seu email não será publicado. *Campos obrigatórios.

3 Comentários (Deixe o seu!)
  1. Maria das Graças Toniato Valladares:

    Maravilhosa sua explicação! Obrigada!

  2. Elaine R Felipe:

    Matéria excelente… amei o conteúdo e a leitura, como já é uma prática nos seus posts.
    Usando o gancho na reflexão: eu costumava “comparar” o uso de creme de leite fresco x creme vegetal na minha cabeça, até pq creme de leite “fresco” não existia na minha cidade ou no meu bolso há alguns anos, mas hoje está divisão não existe mais para o meu universo.
    São produtos com concepções diferentes: imagine fazer um bolo de aniversário dos sonhos, temático ou não, mais ou menos trabalhado em Teresina ou Fortaleza?
    Estes produtos vegetais trouxeram não somente fonte de renda a diversas confeiteiras pelo Brasil a fora como momentos de alegria a muitos lares com o famoso “Chantininho”.. e o legal é que podemos também ter um bom chantilly (de creme de fresco) para as sobremesas ou mesmo o simples café por um preço relativamente decente – sonho de infância realizado ?

  3. Alexandre:

    Olá, boa tarde. Suas resenhas são excelentes. A fundamentação teórica, com a experimentação nos mostram todos os aspectos do produto.
    Detalhe especial, sua delicadeza ao se referir às condições financeiras de quem precisa usar é muito oportuna.
    Virei seu fã.