O que é Creme Vegetal Tipo Chantilly?

De tempos em tempos, sempre quando faço alguma receita que pede creme de leite, alguém me pergunta se é possível usar os Produtos tipo chantilly que existem no mercado. Geralmente, eu digo: poder, você até pode (a receita é sua, tu faz o que desejar, né?). Mas vai ficar diferente.

Chantilly dentro de uma tigela em destaque

Para deixar mais claro o que é esse tipo de produto, resolvi fazer um comparativo com o que existe no mercado nessa classe em geral. Basicamente, temos dois concorrentes para o creme de leite.

O primeiro é creme vegetal tipo chantilly e o segundo seria a mistura feita com creme de leite para creme tipo chantilly.

Um aviso: meu objetivo é quanto ao uso do produto em si. Não vou entrar no debate se é comida de verdade (não gosto do termo), se é ou deixou de ser saudável (outro termo questionável). Esse tipo de discussão, particularmente, eu acho que cria mais obstáculos do que explicações. Combinados? Ok.

Vamos todo mundo olhar para a Panela da Verdade: creme tipo chantilly, você sabe o que é?

O que é esse tal de Creme tipo Chantilly?

De maneira simples: um produto substituto para o chantilly e geralmente a principal fonte de gordura é vegetal. Lembrando: chantilly é o creme de leite (gordura animal vindo do leite) batido com açúcar.

Esses produtos eram mais focados ao food service até alguns anos atrás. Ou seja, o segmento que atende os estabelecimentos comerciais seja um restaurante, confeitaria ou padaria. Lugares que possuem demanda de produção e tem saída de embalagens grandes (2, 3, 5, 10kg) dos produtos.

Aos poucos, o acesso ficou mais fácil ao chegar no mercado comum do consumidor final em versões menores para facilitar o uso.

Originalmente, a definição de creme vegetal era descrito pela RDC 270/2005 da Anvisa. Mas algumas alterações foram feitas, pois o texto original causava conflito com a definição de margarina dada pela MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o mesmo produto poderia ser enquadrado em duas categorias.

Então, a RDC 270/2005 foi substituída pela RDC 481/2021. Por um lado ficou mais claro para os produtos que eram margarina. Mas por outro: produtos que como o creme tipo chantilly ficou mais vago e abrangente.

Agora, os cremes de chantilly de base vegetal são regidos pela RDC 273/2005 como “alimentos prontos para o consumo ou misturas para o preparo de alimento” e dentro dela há quatro definições, sendo duas delas podem ser aplicadas aqui.

  • Misturas para o Preparo de Alimentos: são os produtos obtidos pela mistura de ingredientes, destinados ao preparo de alimentos pelo consumidor com a adição de outro(s) ingrediente(s). Podem requerer aquecimento ou cozimento. O produto resultante após o preparo, de acordo com as instruções do fabricante, deve ser aquele mencionado na designação da Mistura.
  • Alimentos Semi-Prontos ou Prontos para o Consumo: são os alimentos preparados ou pré-cozidos ou cozidos, que para o seu consumo não necessitam da adição de outro(s) ingrediente(s). Podem requerer aquecimento ou cozimento complementar.

Por enquanto, não há uma legislação realmente específica para este tipo de produto. A definição existente é bem abrangente.

Por que usam Creme Vegetal?

Para o comércio, os motivos do uso podem ser os mais diversos, porém, um dos principais é o custo. Creme vegetal tipo chantilly é mais barato que creme de leite. Mas também questões de logísticas.

Considerando que o Brasil é um país grande, a distribuição do creme de leite pasteurizado pode ser difícil: precisa ser mantido sob refrigeração constante e o prazo de validade ser menor também.

Este fato da distruibuição também deve ter influenciado para chegar ao consumidor final. Como esses produtos podem ser armazenados em temperatura ambiente (a grande maioria), logo, facilita o ponto de venda e no transporte também. Além de uma possível redução no custo operacional.

Creme tipo chantilly batido em detalhe

Só que existe um preço a se pagar por essa conveniência. Esses produtos terão alguns pózinhos mágicos (aditivos alimentares que não significar ser uma coisa ruim necessariamente) para conseguir todas as características desejadas. Normalmente, são estabilizantes e emulsificantes para manter estável a mistura de água e gordura. São concessões que, às vezes, são feitas.

Um ingrediente ser estabilizante e/ou emulsificante não significa, necessariamente, que é algo ruim. Muitos dos ingredientes que usamos de modo corriqueiro possuem estas propriedades.

Por exemplo, amido de milho pode ser um estabilizante (além de espessante), a gema do ovo é um emulsificante (devido a lecitina presente) e assim por diante. E lembrando, quando se trata de comida tudo o que consumimos é na sua essência algo químico.

A oferta de produtos é bem grande. Então, para simplificar, separei em duas categorias básicas: base vegetal e base animal, sendo a vegetal com uma diversidade maior de produtos.

Onde é usado Creme Vegetal Tipo Chantilly?

Cupcake de chocolate derrubado
Foto: Michael Lorenzo

Como o propósito do produto é ser um alternativo ao chantilly (creme de leite fresco/pasteurizado batido), então, é no preparo de sobremesas. Seja para confeitar um bolo ou uma torta, e até mesmo como ingrediente em alguma preparação.

O modo de uso vai depender de quem for usar e de acordo com as limitações de cada produto. Por exemplo, se a base for já adoçada não ficaria tão interessante de usar em um prato salgado.

Creme tipo Chantilly de Base Vegetal

Base Vegetal: Creme tipo Chantilly

Vale ressaltar que os produtos à base vegetal podem ter ingredientes de origem animal também. O vegetal é em relação a origem da gordura principal usada na formulação do produto, e por não ser creme de leite.

Existem várias marcas no mercado com produtos similares, veja alguns dele:

  • Arcólor: Chantycólor (creme vegetal tipo chantilly) e Drenn Crenn (mistura em pó, base vegetal e animal)
  • Bunge: Gradina e Ricca (creme vegetal tipo chantilly)
  • Dr. Oetker: Chanti-neve (mistura em pó, base vegetal e animal)
  • Fleischmann: Creme tipo Chantilly (esse é nome dele, é creme vegetal tipo chantilly)
  • Hulalá: Hulalá Classic, Hulalá Platinum, Hulalá Chantilly (creme vegetal)
  • Mauri: Chantilly Standart e Chantilly Platinum (creme vegetal tipo chantilly)
  • Mix: Chantilly Mix (produto em pó)
  • Puratos: Ambiante e Chantypak (creme vegetal tipo chantilly)
  • Rich’s: Whip Topping, Bettercreme, Ultra Rich, Europa Topping, America Topping (creme vegetal tipo chantilly). Algumas destas versões precisam ser mantidas sob refrigeração.
  • Vigor Food Service: Chanty Mix Tradicional Amélia (creme vegetal tipo chantilly)

Creme tipo Chantilly de Base Animal

Base Animal: Creme tipo Chantilly

Assim como os de base vegetal, esta separação é decorrente a origem da principal gordura usada na composição do produto.

  • Nestlé Professional: Nestilly (mistura para preparo de creme tipo chantilly)
  • Piracanjuba: Creme de Leite Bate Chantilly (creme de leite UHT com 35% gordura)

A versão da Piracanjuba já existia desde meados de 2015, porém a distribuição é bem limitada. Testei também, caso queira conferir: Chantilly da Piracanjuba. Pela legislação, é creme de leite UHT (leia-se: um creme de lite de caixinha/lata) e não um preparado.

Em uma olhada rápida, parece que tanto o Creme de Leite Piracanjuba e Nestilly da Nestlé são iguais. Mas creme de leite UHT não pode conter determinados aditivos e/ou coadjuvantes, apenas alguns espessantes e estabilizantes especificados pela legislação.

Neste ponto que o Nestilly fica diferente, ele possui outros ingredientes e perde o status de creme de leite UHT. Enquanto, o Piracanjuba utiliza apenas os permitidos: espessantes carragena e goma alfarroba (pode ser chamada de jatai ou locusta) e estabilizante citrato de sódio.

Bibliografia

  • ANVISA: Requisitos de identidade, composição de ácidos graxos, qualidade e rotulagem dos óleos e gorduras vegetais. RDC nº 481 de 15/03/2021.
  • ANVISA: Regulamento Técnico Para Misturas Para O Preparo De Alimentos E Alimentos Prontos Para O Consumo. RDC nº 273 de 22/09/2005.
  • ANVISA: Regulamento Técnico Para Óleos Vegetais, Gorduras Vegetais e Creme Vegetal. RDC nº 270 de 22/09/2005.
  • MAPA: Regulamento Técnico de Margarina. IN nº66 10/12/2019.
  • MAPA: Regulamento Técnico De Identidade e Qualidade De Creme De Leite. Portaria nº 146 de 07/03/1996.
Vitor Hugo

Mestre em Ciência de Alimento, Farmacêutico-Bioquímico e Gastrônomo. Atua como Produtor Gastronômico e Comunicador de Ciência. Criou o PratoFundo para ser o portfólio de gastronomia e ciência.

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28 Comentários (Deixe o seu!)
  1. Graça PF Ludgero:

    O Prato Fundo foi fundo! Obrigada pela publicação.

  2. Ana Maria Coutinho:

    Eu gostaria de saber como o dito como a gordura vegetal usada em preparo de chantilly é digerida pelo nosso aparelho digestivo e se tem algo impróprio para a absorção do nosso fígado?

    1. Vitor Hugo:

      Até onde eu sei, não há artigos com esse tipo de pesquisa. Entretanto, por ser gordura, diria que a digestão/absorção será similar aos outros tipos de gordura que compõem os alimentos.

  3. Rose Pired:

    Quero um chantilly para bolo vegano, qual o melhor e onde encontro?

    1. Vitor Hugo:

      Nunca vi para vender por aqui.

  4. Mariana Brito:

    Bom dia Vitor Hugo,
    para o Nestilly montar da forma mais fácil é só deixar ele gelar por 12 horas e depois bater na neidinha em velocidade 4.
    Parabéns pelo conteúdo!

    1. Vitor Hugo:

      Não funcionou.

  5. MARA RUBIA FERRARI BITTENCOURT:

    Olá, ótimaabe me informar se temos hoje no Brasil alguma marca que seja totalmente vegana?

    1. Vitor Hugo:

      Até o momento (2021) não existe nenhuma.

  6. Stéfanie:

    Olá, já usei muito netilly, ele só montava quando deixava na câmara durante 2 dias em temperatura entre 2 e 4 graus. Também precisa iniciar o batimento em velocidade 2 na planetária e pode demorar até 10 min.

  7. Marina Gomes Junqueira Silva:

    Muito obrigada, essa matéria me ajudou muito!

  8. Mei:

    Olá Vitor Hugo, qual é a possibilidade da indústria usar alguma parte dos suínos para preparação desses produtos? Você escreveu que até os produtos com origem vegetal podem ter gordura animal, na embalagem isso não é especificado. De que maneira eu consigo essa informação?

    1. Vitor Hugo:

      É uma possibilidade, igual no caso de gelatina que pode ser origem bovina e suína. Você só vai conseguir essa informação diretamente com a empresa, ou seja, teria que entrar em contato com cada uma delas. E mesmo assim, pode não receber a informação desejada. Tecnicamente, elas não são obrigadas a informar.

  9. Rita de cassia:

    Bom dia na sua opinião qual dessas marcas você usaria nas suas receitas muito OBRIGADA espero resposta

  10. Silvana Silva Lopes:

    Olá Vitor Hugo tudo bem?
    Preciso tirar uma dúvida, tenho intolerância a lactose, existe algum Chantilly sem lactose?

    1. Vitor Hugo:

      Desse cremes tipo chantilly/vegetal, eu não lembro de ter visto. Mas já vi creme de leite (de verdade) para chantilly sem lactose, porém são mais caros que o normal.

    2. thaisa:

      Existe o da Verdecampo Lacfree. Mas geralmente quando são de base vegetal, podem não conter lactose. Porém se vc tiver alergia à proteína do leite, maioria dos produtos contém caseína, que também vai causar alergia

  11. Eloisa:

    Oi Vitor!
    Fico super feliz de te lo por aqui no youtube, ja q nao e a primeira vez q vc me ajuda em algumas duvidas!
    Gostaria de saber se o creme de leite fresco pode substituir o creme vegetal no q diz respeito a estabilidade do glace.
    Obrigada

    1. Vitor Hugo:

      Hum… não sei o que seria “glace” para você. Mas tanto um quanto outro, são sensíveis a temperatura. Ficar em temperatura ambiente não seria recomendado.

      1. Stéfanie:

        Olá, vc sabe me dizer se algum desses chantillys de base vegetal são veganos?

      2. Vitor Hugo:

        Para saber isso, só lendo a embalagem mesmo.

  12. Meliza:

    Nossa!!! Parabéns!!! Texto muito explicativo.
    Tudo o que eu precisava.

  13. Mónica:

    Oi! Tem una forma de fazer em casa o creme de leite para chantilly. E não é tão complicado: Uma xícara de leite inteira e 200 gr de manteiga ( não margarina).
    Derrete a manteiga a fogo bem brando tira do fogo e adiciona o leite batendo a mão, até que misture/emulsione bem.
    Coloca no liquidificador e bate por 1 minuto (vai homogeneizar). Coloca num recipiente e leva à geladeira por no mínimo 4 hs.
    Está pronta para bater!

  14. any:

    Caramba…que vídeo mais completinho!!!! amei!!! s2

  15. Juliana Maasdijk:

    Muito bom texto, é completo. Parabéns!

  16. Diego Manoel:

    Sempre quis usar, mas aqui em Recife é bem raro encontrar o creme de leite fresco, as vezes aparece em algum mercado grande e algumas vezes já estão vencidos.
    Tem uma loja de produtos locais que tem, não é barato, mas não tenho referência de preço, acho que é uns 15 reais com 500ml e 35% de gordura.
    Qual a média de preço na tua cidade?

    1. Vitor Hugo:

      Se for esse creme de leite igual o seu (35% de 500mL) aqui fica uns r$12-14. Já em são Paulo é mais barato, quer dizer: uns r$9-10. Mas os creme de leite com mais gordura (+40%), onde eu moro é mais comum, e fica entre r$6-7.

      1. DORA ARAUJO:

        Nossa, que inveja! ;p Aqui onde moro, apesar de apenas 70km de São Paulo, nunca tem creme fresco. Uso o vegetal por absoluta falta de opção…